Centenas adeptos da direita conservadora de Alagoinhas finalmente tomaram as ruas da cidade e fizeram o seu primeiro ato organizado. Como tratava-se de uma estreia em termos de movimento popular, pode-se dizer que foram bem sucedidos, como avaliou um dos coordenadores do movimento, Ivan Junior.

O PSTU(Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) e o PCB(Partido Comunista do Brasil), por outro lado, reuniram, na praça da Bandeira, duas dezenas de simpatizantes e filiados para realização de uma aula pública destinada a protestar contra o Governo Bolsonaro e mobilizar a sociedade em favor do seu impeachment. Apesar do baixo número de participantes, não se pode chamar o ato de um fiasco político, pois ali foram defendidas teses importantes para a renovação da esquerda no país e até de forma global.

Os conservadores colocaram suas teorias patrióticas e teológicas em defesa da família, de DEUS e da pátria que, segundo eles, estão mais uma vez ameaçadas pelos comunistas. Saíram em caminhada da Praça Rui Barbosa até a JJ Seabra, retornando pela praça da Schin até o ponto de partida. Reprovaram os atos do Supremo Tribunal Federal – STF – que tem atentado contra a liberdade de expressão, perseguindo canais conservadores como forma de tirar a base de apoio do presidente Bolsonaro e por consequência abrir caminho para o retorno de Lula à presidência, um condenado em três instâncias por corrupção e salvo pelos ministros indicados pelo PT no próprio STF.

Existe uma ideia de fato de que o comunismo, motivado pela liderança econômica da China, tem se fortalecido, usando métodos poucos ortodoxos como a corrupção e aparelhamento das instituições e, por intermédio do poder econômico, a influência nos processos eleitorais com fortes suspeitas de fraude, como ocorreu nos EUA recentemente. De outra maneira, os conservadores são criticados por contribuir com a exclusão de homossexuais, negros e mulheres, quando defendem os dogmas católicos e evangélicos ao pé da letra.

Basicamente, as falas, que precederam e perpassaram a aula pública da esquerda local giravam em torno de dois argumentos simplistas, repetidos diariamente pela grande mídia: Bolsonaro é fascista e genocida. Culpam o presidente pelas mortes na pandemia, algo questionável, e que ele está sempre atentando contra as liberdades democráticas, o que definitivamente não é verdade. A isso se chama de “fascismo imaginário” e para destruí-lo os “defensores da democracia” têm o direito de jogar fora das quatro linhas da constituição – tomar medidas antidemocráticas; é esquizofrênico assim mesmo. Na realidade o retorno de Lula seria uma estratégia para PSTU e para o PCB, embora não considerem o PT como socialista, nem o governo da Argentina, nem as ditaduras cubana e venezuelana. São todos seguidores do capitalismo de estado, tão bem representado pela China.

Eles consideram que em um governo petistas teriam um caminho mais livre(democrático) para se colocar como socialismo autêntico, e fazer a revolução do proletariado. Só que em treze anos de PT no poder, a sigla só fez minguar, deveriam mudar de estratégia e defender o slogan: “nem Lula nem Bolsonaro”. Até no momento em que o PT estava no chão, com Lula na cadeia, o PSTU nao foi capaz de assumir a liderança da esquerda e convergir para a sigla os verdadeiros socialistas que ainda se encontram espalhados em várias legendas adeptas ao Foro de São Paulo. No entanto, eles têm algo de assertivo, a denúncia do capitalismo de estado que usa indevidamente o nome de socialismo. Combater o falso socialismo seria a estratégia mais correta do que gritar para ninguém um Fora Bolsonaro, quando milhões lotaram as ruas justamente para evitar qualquer tentativa de impeachment.

Antonio Salles, uma das lideranças de esquerda mais coerentes de Alagoinhas, faz uma leitura avançada da situação política atual. Ele concorda com a tese de que por anos o PSDB e o PT constituíram um falso antagonismo, que por incrível que pareça é uma das teses de Olavo de Carvalho, o guru de Bolsonaro, que chamou a isso “estratégia das tesouras”. Ednaldo Sacramento, candidato a prefeito nas últimas eleições, bastante elogiado por seus diagnósticos e propostas, afirmou que só existe socialismo com democracia e que a democracia só existe no socialismo, uma tese simples, mas brilhante, muito defendida por Gyorgy Lukacs. Saindo do simplismo da pauta do evento, Salles acerta quando diz que Bolsonaro representa a extrema direita com tendência a intensificar o liberalismo, consequentemente ameaça as empresas estatais e o funcionalismo público. No entanto, ele não reconhece que o estado está inchado e que as estatais são focos de corrupção, salvo exceções.

O  STF tem tido algumas posturas questionáveis, para Salles, o remédio adotado para combater os atos antidemocráticos cabem algumas ressalvas, o ministro do STF não pode ser ao mesmo tempo vítima, promotor, acusador, o investigador e o juiz. Mas não é exatamente por isso que se fala no artigo 142 da constituição? Mas o PSTU acha que o STF, nesse caso, comete um pequeno deslize, não um atentado à democracia como de fato é. Ednaldo Sacramento chega a dizer que a suprema corte apenas reage aos atos fascistas de Bolsonaro, quais? Novamente o “fascismo imaginário” construído pela mídia, reproduzindo falas da esquerda(ou pseudo esquerda), de Rodrigo Maia, da CPI das Fake News, e dos ministros do supremo. Lembram como tudo isso começou, quem deu os primeiros tiros?

Por Paulo Dias para o News Infoco