Enquanto a greve do funcionalismo público municipal de Alagoinhas segue sem nenhum avanço, continuamos com os sindicatos pedindo uma série de benefícios e um aumento de 20% nos salários, enquanto a prefeitura oferece 4,1% de aumento, alegando não ter como aumentar a oferta sob risco de descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Enquanto esperamos um desfecho disso tudo, os aspectos políticos que envolvem essa paralisação ficam cada dia mais claros.

Se por um lado a greve não avança nas discussões de suas pautas, por outro lado o movimento grevista, devido a sua rápida politização, deixou escancarada até aqui duas situações: a postura desleal do PT municipal para com seus aliados e o oportunismo descarado dos carlistas abrigados no União Brasil e PDT.

O PT, que publicamente mantém conversas com o Governo Joaquim Neto e compõe uma federação partidária que inclui o PV, detentor de indicações na prefeitura, não só vem apoiando o movimento paredista, como participou de um ato simbólico, onde manifestantes fizeram a encenação de um “enterro do atual gestor”. Gestor do qual negociam apoio.

Na sexta-feira da semana anterior a deflagração da greve, o PT, representado por Radiovaldo Costa e o deputado Joseildo Ramos estiveram reunidos com o prefeito Joaquim Neto e o pré-candidato Gustavo Carmo para dar continuidade as negociações sobre a aliança entre os dois grupos. A reunião buscou estabelecer critérios para escolher a indicação do cabeça de chapa. Uma semana depois, o mesmo Radiovaldo Costa que sentara dias antes com o Governo, discursava em meio à manifestação dos sindicatos, criticando publicamente à Gestão Municipal, sobretudo pela proposta de aumento salarial de 4,1%.

O que dizer sobre essa postura?

A situação fica ainda mais feia para o PT, quando neste mesmo ano o Governo do Estado, comandado por eles, ofereceram um aumento salarial para o funcionalismo público estadual de 4%, 0,1% a menos que a Gestão Municipal de Alagoinhas. Funcionários públicos do estado reclamam uma defasagem salarial de mais de 50% em 8 anos e professores ainda sofrem para receber os recursos do FUNDEB. Ou seja, em primeiras linhas, o PT não tem capacidade moral para fazer qualquer discurso em defesa do funcionalismo, porque enquanto detentor de poder da máquina pública estadual, não fez diferente, em alguns pontos fizeram até pior.

Outro ponto a se destacar é que, diferente do PT em Alagoinhas, os partidos aliados não confrontaram o Governo Estadual, pelo contrário, ajudaram a aprovar todas as medidas do governador Jerônimo Rodrigues. É preciso registrar também, que até aqui não se ouviu falar em greve da rede estadual, apesar da similaridade de tratamento dos governos citados para com o funcionalismo.

Já os carlistas de Alagoinhas, abrigados no União Brasil e PDT, veem na greve um palco propício para produzir memes e recortes para internet. Partícipes de uma legislatura que tem sido motivo de vergonha para a cidade, passaram todo o mandato até aqui procurando alguma forma de chamar a população para apoiar as suas pautas, sem êxito. Sem credibilidade junto ao povo, demonstraram não possuir qualquer capacidade de mobilização em temas que fazem parte das principais demandas de qualquer cidade de médio e grande porte como transporte público, infraestrutura, saúde e educação. Pegam emprestado dos sindicatos, um público que nunca atendeu aos seus clamores.

A falta de intimidade do carlismo com os movimentos sindicais também é histórico. Sempre estiveram em lados opostos, mas o oportunismo é quem dita as regras desse grupo que apoiaram o fim do imposto sindical, a reforma trabalhista e diversas medidas que se opõem ao que pensam as entidades sindicais. Eles não estão preocupados com grevistas, e sim com os resultados políticos que podem obter.

Assim como o Governo do Estado, a prefeitura de Salvador, comandada pelos dois partidos, UB e PDT, concederam os mesmos 4% de reajuste salarial para os seus servidores. Ou seja, assim como a turma do PT, são adeptos daquela velha máxima “Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço’. Máxima essa digna dos hipócritas e oportunistas, diga-se de passagem.

No plano de fundo disso tudo, um ano pré-eleitoral, em que os carlistas deverão apostar na figura de um sentenciado a prisão por fraude em licitação para voltar comandar a cidade e o PT tenta se impor como líder de um projeto politico, tendo os partidos que compõe a base do governador Jerônimo como simples subalternos de seus caprichos.

E o povo? Ahh… Nós só servimos para votar de 2 em 2 anos e assistir as “sem-vergonhices” que os políticos praticam durante todo esse tempo.

Escrito por Caio Pimenta, advogado, âncora do programa Primeira Mão, da radio Ouro Negro 100,5 FM. Ele também escreve sua coluna no site News Infoco, do qual é editor- chefe e dirige a radio web 2 de julho.