Neste Dia da Consciência Negra, a Comunidade do Buri celebra sua certificação como comunidade remanescente quilombola pela Fundação Cultural Palmares, conquista histórica que reforça a ancestralidade e a identidade negra do território. Poucos dias antes da celebração, no último 13 de novembro, a equipe da assessoria de comunicação da Câmara Municipal esteve no Buri, onde o fotógrafo, arquiteto e pesquisador Raimundo Cavalhier apresentou os espaços da comunidade, compartilhou a história local e explicou o processo que levou ao reconhecimento oficial do quilombo.
Durante a visita, o polímata (pessoa que possui conhecimento em diversas áreas do saber) conduziu um percurso pelos pontos mais significativos do território, contextualizando a luta que culminou na certificação. Ele destacou a importância da mobilização dos moradores. “O Buri sempre soube caminhar junto. Essa conquista não é de uma pessoa só. É fruto de uma luta coletiva.”
Responsável por conduzir o processo de certificação junto à Fundação Cultural Palmares, Cavalhier explicou que a mobilização envolveu rodas de conversa sobre identidade quilombola, oficinas de valorização da ancestralidade e um trabalho extenso de documentação com os mais velhos. “Fizemos entrevistas, registramos memórias, levantamos documentos e construímos, junto com o povo do Buri, um relato fiel da nossa história.”
A história da comunidade está presente até mesmo no nome. “Buri” tem origem na árvore Buriti, utilizada antigamente para cobrir telhados. O território já foi conhecido como Olhos d’Água do Buri, por conta de um olho d’água que existia na região, e também recebeu nomes como Jacaré de Dentro, Jacaré de Fora, Dendê e Sapé, conforme lembrança dos mais velhos. Segundo relatos, os primeiros moradores vieram de Cachoeira, fortalecendo a ligação do Buri com a ancestralidade negra do Recôncavo.
Na oportunidade, o presidente da Associação de Moradores do Buri, Elielson Sampaio, relatou que a luta pela certificação teve início em 2009 e envolveu diversas lideranças ao longo dos anos. Ele destacou que, mesmo com dificuldades e resistência inicial por falta de informação, a comunidade passou a compreender a relevância do processo.
“Aos poucos o povo abraçou a causa. Hoje estamos felizes porque essa vitória é de todo mundo. Raimundo conduziu a reta final, mas muitas mãos ajudaram. É uma conquista coletiva e muito importante para o Buri”, declarou.
O presidente reforçou que o reconhecimento fortalece a comunidade para reivindicar melhorias. “Agora que somos quilombo, continuaremos lutando pela comunidade. É uma alegria enorme para todos nós.”
Ainda durante a visita, a moradora Marilizi Silva relatou sobre sua vivência no Buri, descrevendo o território como um lugar de convivência comunitária e acolhimento. “Morar aqui é como morar em família. Fomos acolhidos desde o início e conhecemos todos os moradores. É um lugar de cuidado e pertencimento”, contou.
Marilizi também comentou sobre avanços estruturais e desafios persistentes: “A escola foi reformada e a iluminação melhorou. Mas o rio sofreu muito com o desmatamento, pois o nível da água, que antes era suficiente para nos banharmos, hoje está muito baixo”.
A mobilidade urbana e a infraestrutura continuam sendo desafios importantes. Em dias de chuva, a estrada principal acumula lama e dificulta o acesso. A comunidade também reivindica reforma de praças, manutenção de abrigos de ônibus e continuidade das obras anunciadas. Reuniões da Associação de Moradores têm buscado fortalecer o diálogo com o poder público para atendimento das demandas.
Ainda assim, o Buri resiste e tem ampliado sua presença em agendas regionais e nacionais. A comunidade foi convidada para atividades na Serra da Barriga, em Alagoas, e recentemente recebeu a visita da comissária da Central Única das Favelas da França, interessada em conhecer suas tradições. Raimundo destacou o impacto dessa troca. “Nossa história tem importância não só para Alagoinhas. Estamos construindo pontes e mostrando a força do nosso território.”
Por fim, ao refletir sobre o Dia da Consciência Negra, Raimundo Cavalhier sintetizou o sentimento da comunidade. “O rio que esquece onde nasce seca e morre. A filosofia Sankofa ensina que nunca é tarde para recuperar o que ficou para trás. O 20 de novembro é memória, resistência, cultura e futuro.”




































