Afrobook conta história da percussão afro-baiana

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Em 1992, o Olodum apresentava a canção Berimbau, onde resumia a importância da música percussiva popular produzida na Bahia: “Aguçe a sua consciência, negra cor. Extirpar o mal que nos rodeia, para se defender, a arma é musical”. Com o objetivo de registrar a riqueza rítmica dessa música que tem suas raízes nos terreiros de candomblé, a Associação Pracatum lança, hoje, no Candyall Guetho Square, o primeiro volume do livro Afrobook. 

O livro terá versões impressa e em áudio book. A versão física será distribuída gratuitamente para bibliotecas, associações e entidades (Foto:Reprodução) 

A publicação – que tem o  patrocínio da Natura Musical e do FazCultura – terá uma versão impressa de 500 cópias, que serão distribuídas para bibliotecas, associações e entidades, além de uma versão em áudio book, que será disponibilizada no site Amazon (www.amazon.com.br) e, gratuitamente, em áudio book no site da Pracatum (www.pracatum.org.br).

Dividida em duas partes, a obra pesquisa a origem religiosa e lúdica dessa musicalidade e traz cinco capítulos:  Numa Cidade Atlântica, Universo Rítmico, No Chão das Ruas, Samba Afro e Samba-Reggae e Partituras e Transcrição – esse último compondo a Parte II ao apresentar o trabalho de transcrição dos ritmos. A orientação de pesquisa é do historiador e escritor Jaime Sodré.

A organização do Afrobook é assinada pela diretora da Pracatum, Selma Calabrich, e pelo músico Gerson Silva, com autoria de textos por mestre José Francisco Izquierdo Yañez e José Maurício C.D Bittencourt. A antropóloga Goli Guerreiro assina a curadoria editorial e edição de textos.

A pesquisa se volta para a década de 70, com a fundação do Ilê Aiyê, primeiro bloco afro baiano, e percorre as criações dos afoxés; a influência dos blocos de índio, o impacto dos novos instrumentos implementados pelas escolas de samba que atuavam na capital e o desenvolvimento de ritmos como samba afro, samba-reggae, swing, merengue e alujá. Além disso, o livro descreve como cada bloco afro deixou a sua identidade ao incorporar cada um desses ritmos em suas bandas e apresentações.

De acordo com o professor da escola Pracatum José Francisco Izquierdo Yañez, a ideia de resgatar a origem dos ritmos presentes nos blocos afros surgiu dentro da própria escola, quando se percebeu que o material didático disponível não falava para aquele público e se alicerçava num método europeu. Os blocos,  destaca, se pautam em células musicais presentes, especialmente nas casas de candomblé da nação Angola e  se baseiam em ritmos como o Barravento, Cabila e Congo.

“Fizemos um profundo trabalho de resgate de memória oral, solicitando que mestres como Valdir Lascada, Mestre Marivaldo, Mário Pam e Mário Bomba tocassem como se tocava na época”, diz Yañez, ressaltando que muitos desses músicos, inclusive o próprio Neguinho do Samba(1954- 2009) foram os autores de inovações exploradas pelo mercado musical, mas que nunca gozaram de um retorno financeiro por suas invenções, marcadas por genialidade e pelo improviso.

“Tentamos homenagear esses músicos”, completa Yañez,  salientando que esses saberes musicais foram gerados dentro de um contexto popular, oriundos de uma tradição escravista que nunca conseguiu valorizar essa estética. “Todo esse conhecimento ainda não foi apreciado como se deve”, avalia. 

SERVIÇO

Livro: Afrobook Vol 1

Lançamento: hoje, às 17h, no Candyall Guetho Square(R. Paulo Afonso, 411 – Candeal)

Fonte:Correiodabahia