A diretoria responsável por avaliações da educação básica, como o Enem, está sem titular desde maio. O cargo, considerado um dos mais importantes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), ficou mais tempo vago do que ocupado sob o governo Jair Bolsonaro (PSL). Servidores relataram à Folha, sob condição de anonimato, que a vacância no comando da Daeb (Diretoria de Avaliação da Educação Básica) tem comprometido o andamento de ações e desestimulado a equipe.

Desde o início o início do ano, passaram pela Daeb quatro diretores. Até esta sexta (9), o cargo esteve vago por 140 dias e ocupado nos outros 81. Luana Bergmann ocupava a diretoria na gestão Michel Temer (MDB) e ficou no órgão até 14 de janeiro. Dois dias depois, assumiu Murilo Resende, aluno do escritor Olavo de Carvalho. Ele permaneceu dois dias e foi exonerado após repercussão de sua falta de experiência na área e do critério ideológico da escolha. Somente em 14 de fevereiro foi anunciado o novo nome, do professor Paulo Teixeira, que pediu demissão no mês seguinte, em 27 de março. Teixeira saiu em consideração a Marcus Vinicius Rodrigues, demitido da presidência do Inep pelo ex-ministro Ricardo Vélez Rodríguez.

O substituto e última pessoa a ocupar o cargo, Francisco Garonce, só foi nomeado em 26 de abril. Ex-coordenador de Educação para o Trânsito do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Garonce esteve menos de um mês no cargo. Foi desligado no dia 21 de maio, após uma falha no protocolo de segurança do Encceja, prova para certificação de jovens e adultos. Outras duas diretorias do Inep estão sem chefe: a de Avaliação do Ensino Superior e de Estudos Educacionais. Os três cargos têm sido ocupados por substitutos eventuais, que acumulam funções. O entra e sai reflete a inexperiência em educação e avaliação educacional dos escolhidos para comandar o instituto, segundo servidores. Também pesou a queda de braço, dentro do Ministério da Educação, entre a ala ideológica do governo – inspirada por Olavo de Carvalho – e técnica, composta de ex-integrantes do Centro Paula Souza, instituição de ensino técnico, aliados aos militares.