No dia de ontem(30), manifestantes foram às ruas do país contra o contingenciamento de recursos do MEC anunciados pelo Governo Federal. Capitaneados pela UNE, UBES e outras entidades da esquerda que detém inegável dominação dos núcleos de representação estudantil do país, estudantes e professores levaram cartazes, bradaram palavras de ordem contra o Governo Bolsonaro e exigiram maior atenção a educação.
Diante da inércia e conformismo que esses movimentos praticaram durante os governos petistas, leia-se Lula e Dilma, que também contingenciaram orçamentos da educação sem nenhum questionamento destes mesmo movimentos, a opinião pública não comprou esse repentino ‘despertar’ da esquerda. O resultado foi o fiasco destas manifestações como um todo.
Apesar do resultado geral ter sido ruim, aqui em Alagoinhas, em especial, algo curioso me chamou atenção. Em defesa da educação, e contra os cortes na área, os manifestantes não só criticavam o governo Bolsonaro, como também o governo Rui Costa, do PT. A coerência no que tange a cobrança de ambos os governos merecem verdadeiros aplausos. Sinal que já se inicia uma especie de auto-critica de posturas equivocadas do passado recente.
Quero aqui reproduzir uma das palavras de ordem que foram entoadas por esses manifestantes como exemplo. ‘Bolsonaro seu fascistinha, os estudantes vão colocar você na linha. Rui Costa seu fascistinha os estudantes vão colocar você na linha’. Não vou aqui discutir o que é fascismo, e se realmente essa qualidade cabe aos dois, Rui Costa e Bolsonaro, só peço que os senhores leitores observem que os dois são colocados em posição de igualdade pelos manifestantes.
No mais, não podemos deixar de chamar a atenção também para o constrangimento que se observa em ver a esquerda sendo obrigada a protestar contra um governo comandado por um partido de esquerda, no caso o PT. Se a nível nacional os estudantes reclamam de contingenciamento, aqui na Bahia, só para resumir, as universidades permanecem em greve, o que vem afetando de forma negativa a vida de professores e alunos.
É constrangedor ver muito daqueles que defenderam o PT contra o carlismo, ou a volta dele, ter que se voltar agora contra um governo petista. ‘Ah, na época do carlismo era pior’, dizem alguns defensores do petismo na Bahia. Ora, se antes era pior, por que as greves? Me parece uma verdadeira contradição.
Mas não quero que esse artigo seja utilizado como um culto ao carlismo. Muito pelo contrário, concordo em parte com esses defensores, o carlismo em termos de comprometimento com a educação na Bahia foi um fracasso e suas ações demonstravam que não tinham entre suas prioridades esta área. Porém, olhemos o governo do PT, quantos ex-carlistas hein…. Vai aí mais uma contradição.
Essas contradições é que levam ao constrangimento. O constrangimento de se propagar a existência de um governo de esquerda que na verdade há muito deixou a essência desse espectro politico e se rendeu as práticas e ações daqueles que criticavam. Aí cabe uma reflexão aos estudantes e professores, em especial, que engrossaram as fileiras destas manifestações. Primeiro para que não sirvam de massa de manobra de pessoas que possuem apenas o oportunismo politico como essência; segundo para que, caso convictos de seu posicionamento politico, possam refletir a quem verdadeiramente estão a defender ou atacar a depender do momento.
A incoerência sempre foi sinal de posturas equivocadas.
*Caio Pimenta é produtor do Programa Primeira Mão, da rádio 95,7 FM de Alagoinhas, além de ser editor-chefe do site News Infoco.