A manifestação convocada pela oposição em Alagoinhas foi um verdadeiro fiasco em termos de participação popular. Em fotos e videos que circulam pelas redes sociais é possível notar que se colocarmos 50 pessoas presentes, foi muito. A esmagadora maioria dos poucos presentes: filiados de partidos políticos ou filiados a agremiações ligadas a esquerda. Com a politização demagógica e oportunista protagonizada por diversos atores políticos envolvidos, o povo se afastou.
Isso não pode passar despercebido e demonstra muitas coisas. Primeiro, a falta de confiança e a perda de liderança da oposição em Alagoinhas que mesmo diante do grande desgaste do Governo Joaquim Neto, não tem qualquer poder de mobilização popular. Há um evidente vazio em termos de lideranças politicas locais. Isso não é por acaso, o amadurecimento politico da população e a sua capacidade para discernir o que é puro oportunismo politico, do real problema que aflige a sociedade, é um avanço que estimula a discussão séria dos temas que devem ser abordados, neste caso, o transporte público municipal.
Não adianta tapar o sol com a peneira: o sistema de transporte público tem um custo e este custo precisa ser suprido para que se tenha o que a população deseja e que já chegou a ter no passado: ônibus de qualidade rodando em todas as linhas com regularidade.
A matemática é uma ciência exata, se o que arrecada não cobre os custos da operacionalização de um serviço, ela gera um deficit, um prejuízo. No Brasil, após a pandemia, o prejuízo das empresas de ônibus chega a uma cifra que ultrapassa R$ 20 bilhões. O culpado: o represamento de reajustes tarifários e a diminuição de passageiros pagantes. Em Alagoinhas, há uma peculiaridade, o prejuízo das empresas já chega a quase uma década. São quase 10 anos tendo prejuízos anuais. Nesse tempo, a Xavier deixou de operar e ainda responde a processos na área trabalhista. A empresa Cidade Alagoinhas também deixou de operar, não antes de consumir uma considerável parte do patrimônio de seu proprietário para suportar os sucessivos prejuízos. A empresa Avanço, por último, em um contrato emergencial de 6 meses, após 2 meses de prejuízos, abandonou o sistema. A única sobrevivente é a ATP, que tem contado com aportes financeiros de seus donos para operar. Só no último ano foram cerca de R$ 4 milhões de prejuízos. Esconder esta realidade é ser desonesto com a população.
Outro ponto a ser destacado: É obvio que uma tarifa de R$3,90 é criticável em todos os aspectos. Primeiro porque é muito para o usuário pagante, em sua esmagadora maioria pessoas de baixa renda, e segundo porque ainda é pouco para custear a operacionalização do serviço. Estudo técnico apresentado por uma consultoria contratada pela SMTT afirma que nas atuais condições para recuperação do sistema( incluindo renovação da frota), o valor da tarifa em Alagoinhas, deveria ficar em algo no entorno de R$5,40( valor este para custear manutenção de ônibus. combustível, salários, etc). Ou seja, apesar do aumento, as péssimas condições do serviço dificilmente serão superadas. Daí a indiscutível necessidade se de tratar do subsidio.
A cidade de São Paulo, maior cidade da América Latina, destinou, só no ano passado, mais de R$2,65 bilhões do seu orçamento para subsidiar o seu sistema de transporte público. Hoje, o usuário em São Paulo paga uma tarifa de R$ 4,40. Sem o subsidio, este valor para o usuário seria de R$ 8,71. Ou seja, a prefeitura de São Paulo paga para as empresas de ônibus, por usuário pagante, R$4,31 para que o usuário pague R$4,40. É esse o caminho para o debate. Colocar o custo real do sistema na mesa, um valor aceitável para que o usuário de baixa renda possa pagar, e o restante ser pago pela prefeitura. Se em Alagoinhas, a prefeitura utilizasse a mesma média de subsidio de São Paulo, o usuário pagante na cidade pagaria algo entorno de R$2,65. Valor bem menor do que os atuais R$3,20, que vai ser majorada a partir do dia 10 para R$3,90. Esse debate simplesmente é secundarizado pela oposição.
Ao invés disso, fazem uma via crucis pela revogação de R$0,70 de aumento, que se efetuado pode descambar na saída da única empresa sobrevivente do sistema, a ATP. É a estratégia do quanto pior, melhor.
Alagoinhas não precisa de “adoradores do caos”, precisa de uma discussão racional sobre o sistema. Na ânsia puro e simples de desgaste, do já desgastado governo Joaquim Neto, durante a manifestação pôde-se ouvir de tudo: críticas a taxa de lixo, aumento na conta de água, problemas de infraestrutura, etc. Problemas que tem que ser sim discutidos, obviamente, mas eu pergunto caro leitor, afinal a manifestação não tinha como objetivo falar especificamente da tarifa do ônibus? Está aí claro a utilização politica desta pauta puro e simplesmente para inflar a população em busca de um caos generalizado. E quanto a questão do transporte público? “Ah, isso deixa rolar, é algo para nos apegarmos nos próximos meses, afinal vem aí eleições em outubro.”
O povo alagoinhense não merece isso!
O vazio nas ruas hoje de manhã foi uma resposta de Alagoinhas para os aproveitadores políticos de plantão. Foi um sonoro NÃO do povo apartidário que só quer uma solução para o problema.
Com os meios que tenho, seja aqui neste News Infoco, seja no programa Primeira Mão, busco ao lado de meus colegas de bancada(José Gomes, Chico Reis, Luciano Reis) incitar o debate sobre o que realmente importa: o subsidio ao sistema do transporte público como forma de livrar a população do alto custo da tarifa, sem desprezar o real custo da operacionalização do serviço. Fiz e reafirmo novamente aqui minhas críticas ao Governo Joaquim Neto por não querer enfrentar o tema com coragem, o que exige um certo custo politico, mas também não posso deixar de criticar a atuação daqueles que pertencem a pior composição de Câmara que já se observou em Alagoinhas, diante da falta propostas concretas a serem implementadas no sistema, como alternativa ao que foi apresentada pelo gestor municipal. Critico também aqueles que vislumbrando o voto nas eleições deste ano surgem na intenção de serem “salvadores da pátria”, mas sem propostas concretas e com o desejo claro de implementar a desordem generalizada se comportam como “adoradores do caos”. É preciso neste momento ter uma visão ampliada dos problemas de representação que Alagoinhas enfrenta, que nos torna reféns de problemas que podem ser superados, caso exista bom senso e seriedade nas decisões que se toma.
Coragem para apontar os erros, seja do Governo, seja da oposição, seja dos demais políticos que se dizem representar a população, e que recebem muito bem para isso, não me falta. E também tenho certeza, não falta a população alagoinhense, que dá respostas visíveis, como o desprezo dado a manifestação de hoje. Só espero, que este ato patético presenciado na manhã de hoje(06), em frente a prefeitura de Alagoinhas, não atrapalhe as discussões sérias para a superação desta problemática.
Escrito por Caio Pimenta, bacharel em direito, âncora do programa Primeira Mão, da radio Ouro Negro 100,5 FM. Ele também escreve sua coluna no site News Infoco, do qual é editor- chefe e dirige a radio web 2 de julho.