Na véspera da visita o secretário de Saúde do Estado ao município de Alagoinhas, Fernando Santos, que é ex-funcionário do Hospital Dantas Bião e ligado ao movimento sindical, confirma o que se diz vagamente por aí, pessoas morrem por falta de assistência e o que é mais terrível, isso pode já estar acontecendo no Hospital Dantas Bião. Muitos dos riscos de morte ocorrem por precariedade no sistema de regulação. Há também falta de materiais básicos para a realização de exames e cirurgias bem como para execução da limpeza e higienização da unidade.
As condições de trabalho são péssimas, com arrocho salarial, sobrecarga de trabalho e desvio de função, a quantidade de enfermeiras é insuficiente e faltam médicos. Fernando Santos declara algo ainda mais terrível, todas as autoridades do município e do estado sabem da situação e fazem vista grossa. Caio Pimenta, condutor do programa Primeira Mão, estarrecido com depoimento do entrevistado, afirmou que o Dantas Bião tem uma gestão tirânica, amparada por um governo conivente. Fernando Santos aproveitou para convocar toda a sociedade para se manifestar, amanhã, sexta-feira, 07, perante o secretário de Saúde, que vem fazer o anúncio de reforma da unidade.
O líder classista acusou os Conselhos de Saúde e a Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores, tradicionalmente na mão do PT, de não fazerem o devido enfrentamento dessas graves questões. O acordo salarial de 2019 ainda não foi fechado e foi parar na justiça. Curioso é que a empresa que administra o hospital pertence à família do senador Otto Alencar, o mesmo que destinou, via emenda parlamentar, R$10 milhões para a construção do hospital/maternidade. Caio Pimenta mais uma vez se exaspera: “construir um prédio é fácil, difícil e dispendioso é manter um serviço de qualidade. Vide o caso da Upa de Santa Terezinha”. Para Ferando, tanto essa obra como a reforma do Dantas Bião não serão realizadas esse ano e tendem a se arrastar devido a falta de dinheiro dos governos. São quase como promessas. Uma pergunta que fica no ar é como esse mesmo hospital realiza neurocirurgias, se é que estão sendo de fato efetuadas.
Existe, segundo Fernando, uma tentativa de promover arrocho salarial e corte de direitos como hora-extra, percentual noturno, periculosidade e insalubridade. Logo no início, amparado pelo edital de licitação do Estado, foi cortado o plano médico e odontológico dos funcionários e muitos deles sofrem com doenças laborativas como hipertensão e lesões na coluna. Os funcionários que atuaram em movimentos trabalhistas foram demitidos e quem se pronuncia sobre as precariedades da unidade e do trabalho também é ameaçado de corte, em uma clara prática de assédio moral.
Os trabalhadores, na realidade, não confiam em prestar informações para os políticos e nem para os membros do conselho, porque já houve demissão de pessoas que fizeram denúncia em sigilo. É um clima de stalinismo e nazismo, vizinho denunciando vizinho, ou seja, colega delatando coleta. A ordem geral é penar calado. Caio Pimenta considera que tudo isso se dá porque o próprio governo do Estado é perseguidor dos movimentos de classe, basta ver o que vem acontecendo com os policiais militares. Para Santos, Joseíldo, Paulo Cezar, Joaquim Neto, Alex Lima, os vereadores e deputados são omissos. Segundo ele, de modo geral, os políticos brasileiros não fazem nada e não se importam com o sofrimento da população, porque já pagaram os votos que tiveram com dinheiro(de caixa dois) e com cargos públicos.
Para completar o quadro, houve um princípio de incêndio recentemente na UTI, o que levou a se programar uma minirreforma. A alimentação dos funcionários não é adequada, o profissional entra às 6h e só é servida uma única refeição às 23h, condição pior que a da construção civil que tem almoço e café da manhã. Os enfermeiros(as) ficam responsáveis por 12 pacientes cada, em condições estressantes, quando se espera seis horas com dor para receber uma simples dipirona. O problema se estende à rede municipal de saúde, o PSF do Barreiro, por exemplo, está sem médico há muito tempo. Em torno de 50% do eleitorado de Alagoinhas rejeitam todos os pré-candidatos a prefeito, sabendo que pessoas podem perder a vida por falta de assistência é esperado que esse percentual aumente.
Por Paulo Dias para o News Infoco