Os torcedores brasileiros que gravaram um vídeo assediando uma mulher russa durante a Copa do Mundo 2018 serão investigados pelo Ministério Público Federal (MPF) por crime de injúria. Requisitadas em regime de urgência e prioridade, as investigações vão permitir a identificação de todos os brasileiros envolvidos no episódio.
Para a Procuradoria da República no Distrito Federal, a conduta dos torcedores brasileiros ofendeu a dignidade da mulher ainda não identificada, expondo-a a humilhação pública por meio de um comportamento “nitidamente machista e discriminatório”.
A investigação foi aberta com base na Convenção Internacional sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher, que define o comportamento preconceituoso contra as mulheres. O Brasil e demais signatários do acordo devem observar e zelar pelos direitos humanos e liberdades fundamentais em igualdade de condições entre homens e mulheres.
O vídeo feito pelos torcedores brasileiros
As imagens divulgadas nas redes sociais mostram ao menos quatro homens vestidos com a camisa da seleção brasileira, que estão em volta de uma mulher loira (não identificada) e gritam repetidamente uma mensagem pejorativa sobre o órgão sexual feminino.
A mulher que não entende o que o grupo está “cantando” ainda é incentivada a dizer palavras sexistas, mesmo não sabendo do que se trata. Ela apenas sorri e ‘obedece’ aos pedidos dos torcedores.
Depois de ser compartilhado na internet, o vídeo gerou indignação de internautas, incluindo artistas e autoridades – como a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). Muitas pessoas chegaram a pedir para que os brasileiros fossem denunciados.
Com a repercussão do caso, o Ministério de Turismo do Brasil condenou a atitude dos brasileiros nessa terça-feira. Já o Itamaraty afirmou estar “aguardando” denúncia contra os turistas.
Três dos torcedores que insultaram a mulher já foram identificados. São eles: Diego Valença Jatobá, advogado e ex-secretário de Turismo da cidade de Ipojuca, em Pernambuco; o tenente da Polícia Militar de Santa Catarina Eduardo Nunes; e o engenheiro Luciano Gil.
Na Rússia, onde o episódio parece ter repercutido menos que no Brasil, uma ativista criou um abaixo-assinado para reunir manifestações de apoio à punição aos brasileiros . Mais de 23 mil pessoas já assinaram a petição que Alena Popova pretende entregar às autoridades russas e à embaixada brasileira na Rússia a fim de exigir a aplicação das leis que preveem punição a quem humilhe a honra ou a dignidade de outras pessoas.
Mais casos de assédio na Copa do Mundo 2018
E esse não foi o único caso já flagrado de assédio durante o evento na Rússia. Outro caso no qual brasileiros aparecem com uma mulher, dizendo frases ofensivas, também circulou pela web. Nele, é possível ouvir a frase é “eu quero dar a b… para vocês”. Um dos envolvidos foi identificado como Felipe Wilson, que foi demitido da empresa Latam, para a qual trabalhava no Aeroporto de Guarulhos.
Já na terça-feira (19), uma jornalista russa que faz freelancer para o iG Esportes durante o evento esportivo foi a mais nova vítima de assédio de torcedores brasileiros na Copa. Ela contou à reportagem que “não esperava por isso”, e relata tristeza quando percebeu o que os homens estavam cantando.