Semana passada aconteceram eventos de filiações partidárias dos pré-candidatos à prefeitura de Alagoinhas. O DEM botou as cartas na mesa e anunciou Fabrício Faro como postulante ao cargo executivo. O PRB também entrou no jogo e alçou o presidente da Câmara Roberto Torres como pretendente a trocar o legislativo para o maior cargo executivo da cidade.
Outros partidos já têm pré-definidos os nomes para o cargo de prefeito: Luciano Sergio é o pré-candidato do PT, Joaquim Neto é pré-candidato a reeleição pelo PSD. Ouço conjecturas que Tonho Rato seria pré-candidato pelo PDT (mas nada factível). E, ao longo da corrida eleitoral, outros nomes irão aparecer como pleiteantes ao cargo executivo.
O leitor mais atento perceberá que deixei um nome de fora dessa pequena lista acima. O nome de Paulo Cezar! Não esqueci do ex-prefeito, o deixei de fora do resumo supracitado, pois ele é o protagonista do meu artigo de hoje.
Paulo foi candidato ao cargo de Deputado Estadual na Bahia pelo PRP, obteve 26.734 votos totalizados, 17.626 somente em Alagoinhas, foi o deputado estadual mais votado da cidade, mas perdeu a eleição.
A possível candidatura de Paulo Cézar a prefeito de Alagoinhas é obstaculizada por Ação Penal que tramita na Vara Federal aqui da cidade e que pode tornar inelegível seu nome para qualquer pleito eleitoral. A Lei da Ficha Limpa, resumidamente, torna inelegível o candidato que foi “condenado, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos.”
Para ser sincero com os leitores do site News InFoco, o ex-prefeito Paulo Cezar será candidato! A lei prevê a inelegibilidade após “decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado”, ou seja, a Ação Penal ainda está em fase probatória (análise de provas e audiências) da primeira instância. O processo precisa ainda passar para segunda instancia (tribunal colegiado) e, aí sim, o ex-prefeito ser condenado neste tribunal colegiado para ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
Isto quer dizer que, aliado a morosidade da justiça e a habilidade dos advogados, Paulo Cezar disputará as eleições de 2020 para prefeito!
Passando pelo obstáculo legal que impediria sua candidatura, passamos a analisar as nuances da campanha de Paulo. Ousado como lhe é de praxe, Paulo Cezar passou a frequentar os eventos de filiação dos pré-candidatos ditos “amigos”. Recebendo uma recepção inusitadamente calorosa dos seus possíveis adversários Roberto Torres e Fabrício Faro. Em seus discursos, o ex-prefeito ataca a gestão atual de Joaquim Neto de todas as formas, o chama de “inimigo de Alagoinhas” e detalha as diversas falhas no governo municipal atual.
No entanto, o que mais me impressiona é a receptividade dos seus discursos por parte de adversários e do povo da cidade. Quem frequenta esses momentos políticos percebem dos seus “adversários” do DEM e do PRB aplausos, sorrisos e congratulações de seus feitos pela cidade enquanto mandatário executivo.
Essa situação política de Alagoinhas me fez lembrar um livro que li a muito tempo chamado de Crônica de uma Morte Anunciada. Escrito por Gabriel García Márquez, publicado em 1981, conta, na forma de uma reconstrução jornalística, o último dia de vida de Santiago Nasar, num quebra-cabeças envolvente cujas peças vão se encaixando pouco a pouco através da superposição das versões de testemunhas que estiveram próximas ao protagonista. É a história do assassinato de Santiago Nasar pelos dois irmãos, sem chance de defesa. No romance, quase todos os habitantes do lugarejo onde vive Santiago, ficam sabendo do homicídio premeditado algumas horas antes (daí o título), mas não fazem nada de concreto para proteger a vítima ou impedir os algozes.
Voltando para nossa realidade atual, vejo Alagoinhas rendida e atônita com a perspicácia e habilidade de Paulo Cezar em angariar apoiadores e votos como se numa vitória já anunciada!
Encerro meu presente artigo com uma passagem do mesmo livro que resume minha visão da campanha e da eleição municipal em 2020:
Então contou-lhe. “Mas foi como se já soubesse”, disse-me. “Foi a mesma cena de sempre, uma pessoa começa a contar-lhe uma coisa e antes de chegar à metade da história já ela sabe como termina.”
Hugo Azi é advogado formado pela faculdade Ruy Barbosa, Pós-graduado em Direito Empresarial pela FGV/SP, membro da comissão de Direito Empresaria da OAB/BA e do Instituto Brasileiro de Recuperação de Empresas, além de ser colunista do site News Infoco.