O plenário da Câmara Municipal sediou, na tarde de ontem (10), uma audiência pública decisiva para o futuro do planejamento da cidade: a apresentação do Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal (PDDM). A sessão foi marcada por apresentações técnicas, questionamentos incisivos dos vereadores sobre os impactos sociais, ambientais e de infraestrutura do plano e a participação de representantes de entidades da sociedade civil.

A audiência foi aberta pelo presidente da Casa, José Cleto, que definiu o tom de urgência: “Há uma necessidade muito grande de o tanto quanto antes, nós submetermos este plano ao plenário para ele ser discutido e aprovado, dando a legalidade a este plano estruturante, pensando na cidade que queremos daqui para frente”.

O vice-prefeito Luciano Sérgio iniciou a apresentação destacando que o projeto substitui uma legislação de 2004 e é fruto de um amplo processo participativo, com 14 reuniões regionais e quatro temáticas. Ele enfatizou que o PDDM foi elaborado 100% por servidores efetivos, gerando uma economia de R$ 1,6 milhão aos cofres públicos.

“O PDDM que a gente traz aqui não são palavras nem folhas de papel natimortas. Ou copiou e colou de lugar algum. É uma construção que tem alma, que tem vida, que tem movimento, que reproduz o sentimento e o desejo do povo da cidade”, declarou. Ele também pontuou que o plano corrige distorções, como a proteção ao agricultor familiar em áreas urbanizadas, e servirá de base para um conjunto de novas legislações, incluindo planos de habitação, mobilidade e saneamento.

 

A assessora técnica do Gabinete do Vice-Prefeito, Flávia Manoela detalhou a complexa estrutura da lei. Os pontos centrais de sua apresentação foram:

De PDDU para PDDM: A mudança mais significativa é a abrangência, que deixa de ser apenas “Urbana” (PDDU) e passa a ser “Municipal” (PDDM), integrando a zona rural.

Novos Mapas: O município foi redesenhado em Regiões Administrativas (RAs), baseadas em bacias hidrográficas, para políticas públicas mais eficazes.

Novos Instrumentos: A lei ativa ferramentas do Estatuto da Cidade, como o IPTU Progressivo (contra imóveis subutilizados), a Outorga Onerosa (pagamento para construir acima do básico) e a Transferência do Direito de Construir.

Garantias Sociais: Barbosa destacou a criação da “Cota de Solidariedade” (obrigando grandes empreendimentos a contribuir com habitação social) e o Estudo de Impacto de Vizinhança” (EIV), que será obrigatório para avaliar os efeitos de novas construções.

Representando o Conselho das Cidades, Gessé Miranda, funcionário de carreira da Prefeitura de Alagoinhas, chamou o momento de “histórico” após 21 anos. Ele elogiou a inclusão da zona rural e destacou a importância de novos planos ambientais: “O plano de defesa do meio ambiente, o plano de monitoramento ambiental, o plano de arborização municipal são planos necessários, até para a gente conseguir recursos estaduais e federais”, salientou.

Os vereadores fizeram uma série de questionamentos, focando nos problemas práticos da população e na eficácia das novas regras.

Luciano Almeida expressou a “angústia” de mandatos anteriores ao ver a cidade “crescendo para os quatro cantos de forma desordenada”, com “vários empreendimentos chegando sem nenhuma contrapartida socioambiental”.

José Edésio foi incisivo ao cobrar as contrapartidas sociais. “E a garantia desse retorno social, vou ter quando?”, questionou, demonstrando receio de que a Câmara perca o poder de cobrança após a aprovação. “Não poderemos fazer mais nada, só gritar, espernear”. Ele citou nominalmente a Heineken como uma empresa que, em sua visão, “não traz o impacto social” desejado.

Jorge da Farinha e Claúdio Abiúde apresentaram a mesma preocupação: a regularização fundiária. Abiúde mencionou que “mais de 70% das nossas áreas não são documentadas”. Ambos questionaram sobre as regras para escrituração de lotes rurais pequenos e lotes urbanos com menos de 125m², e o impacto disso na aposentadoria rural.

Anderson Xará e Gleyser Soares focaram seus questionamentos nas “localizações geográficas críticas”. Xará citou problemas de esgoto e alagamentos crônicos em Santa Teresinha. Gleyser, morador da Rua do Catu, expressou “angústia” com novos conjuntos sendo aprovados em áreas já saturadas, “que só tem uma entrada e uma saída”, criticando o foco das construtoras no “apenas o lucro”.

Thor de Ninha perguntou sobre os principais desafios pós-aprovação e pediu esclarecimentos sobre a aplicação do IPTU progressivo e seu impacto na população.

Respostas

A equipe do Gabinete do Vice-Prefeito respondeu aos questionamentos apresentados no decorrer da audiência pública.

Sobre as contrapartidas, Flávia Manoela explicou que a garantia será o “termo de acordo e compromisso”, que será “averbado na matrícula do imóvel”, tornando-se uma obrigação legal e passível de execução. Gessé Miranda complementou que os “condicionantes do licenciamento” permitem embargar quem não cumprir.

Em relação às áreas críticas, Luciano Sérgio foi direto: “A lei não retroage para consertar erros passados”. No entanto, ele afirmou que o PDDM é o instrumento que obriga a gestão a, daqui para frente, negar licenças a projetos em locais inadequados. “Está na mão da Câmara”, disse.

Ao responder questões relativas à zona rural, Flávia Manoela afirmou que o PDDM não afetará a aposentadoria rural, pois o que define um imóvel é o seu uso (produção agrícola), e não o tamanho. Sobre os lotes de 125m², ela afirmou ser um “equívoco interpretativo” da lei atual para novos parcelamentos, e que o direito de construir em lotes menores já existentes será garantido nos novos códigos.

Sociedade civil

Simon Lobato, representando o Ecossistema Local de Inovação/Sebraefez uma fala entusiasmada, elogiando a equipe técnica da prefeitura. “O senhor [vice-prefeito] não tem uma equipe boa, o senhor tem uma equipe excelente. O que vocês estão fazendo aqui é inovação de processo. O que eu vi aqui é coisa que algumas capitais grandes não têm”, enfatizou.

Representante da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL),Yuri Almeidadefendeu o planejamento e questionou a real necessidade de um shopping center. “Por que a gente não transforma nosso centro comercial em lugares agradáveis de se estar? Parabéns à equipe que está produzindo esse documento espetacular”, disse.

Arquiteto e urbanista, Paulo Rosário registrouduas “dores” da cidade. Primeiro, o crescimento comercial desordenado em bairros residenciais, como a Rua Bahia (Jardim Petrolar), que gera transtornos. Segundo, criticou a localização de conjuntos habitacionais como o Linha Verde e o Urupiara, “em áreas extremamente distantes”. Ele lembrou que “o conceito de moradia digna não é só você ter uma casa”, mas sim o acesso à saúde, educação e transporte, o que não ocorreu nesses locais.

Ao final, o presidente José Cleto encerrou a audiência garantindo o compromisso da Câmara. Ele anunciou que irá “dialogar para que na próxima terça-feira, de hoje a oito, a gente possa estar submetendo esse PL à discussão e em votação”, concluindo que esta legislatura “ficará marcada para a história” pela aprovação do PDDM.

Para assistir a sessão na íntegra, clique no link: TV Câmara Alagoinhas

Ascom – Câmara Municipal de Alagoinhas

Fotos – Jhô Paz