O professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Wilson Gomes avalia que a tendência no estado é o governador e candidato à reeleição Rui Costa (PT) manter o favoritismo durante a corrida eleitoral. Para ele, isto não significa, no entanto, que uma mudança no cenário baiano esteja descartada, já que há na Bahia o “voto escondido”. “As eleições na Bahia têm sido sempre surpreendentes por muitas razões. O voto aqui na Bahia é um pouco um voto escondido dos institutos de pesquisas, que têm uma metodologia para centros urbanos. A gente tem uma peculiaridade na Bahia. Aqui não tem cidades médias. A Bahia tem cidades grandes, uns dois colégios eleitorais mais ou menos e o resto é cidades pequenas ou micro-cidades. O voto é muito espelhado na Bahia. Muito difícil de detectar. Isso causa surpresa aqui. Além disso, é um estado com alto de índice de abstenção. Em geral, nós somos o campeão de abstenção eleitoral”, avaliou, em entrevista à Rádio Câmara Salvador.
Para Wilson Gomes, Rui Costa tem “perfil muito semelhante” ao do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM). “O Rui se parece muito mais com um governador do PFL do que com um governador do PT. No sentido de que a oferta eleitoral dele é muito menos em termos de políticas sociais, por exemplo, e muito mais em termos de realização de obras. Ele é um grande realizador de obras. Esse perfil é que nós acostumamos como o perfil do PFL. Este é perfil semelhante ao do prefeito, que também é um entregador de realizações. Políticas sociais e públicas não são territórios onde os dois se sentem mais à vontade”, analisou.
Na avaliação dele, este perfil do chefe do Palácio de Ondina fez com que ele escapasse “incólume” da “turbulência que devastou” o PT. “Conheço muita gente que odeia o PT, mas vota em Rui”, ressaltou. Pesquisa Ibope divulgada na semana passada apontou que o petista tem hoje 50% das intenções de votos contra 8% do principal adversário José Ronaldo (DEM). Para Wilson Gomes, a campanha do democrata “parece muito improvisada”. “A estratégia dele todo mundo conhece. Ele só faz atacar, mas o discurso de propostas não tem. Aquele discurso de homilia, de padre do interior, não funciona na televisão. Ele parece um candidato de 1989, que não passou pelo banho de televisão quanto mais de mídia social. Acho que está faltando aí uma preparação do candidato. Precisa de um treinamento para enfrentar a campanha”, ressaltou. “Temos a impressão que Rui Costa disputa um campeonato e outros disputam outro campeonato”, acrescentou.
“Voto em Bolsonaro é voto de protesto”
O professor da Ufba Wilson Gomes também fez uma análise sobre o cenário eleitoral nacional. Para ele, o eleitorado brasileiro quer punir os políticos ao votar no deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) para Presidência da República. “Grande parte dos votos de Bolsonaro é o voto de protesto, de punição ao sistema político. É um voto de ojeriza e nojo ao sistema político”, salientou, ao dizer que o capitão da reserva faz uma espécie de “milagre da comunicação política” ao se vestir como um “não-político”, embora seja parlamentar há quase três décadas. Wilson Gomes entende que há um crescimento no Brasil do “lulismo”, que é visto como é um fenômeno político ocorrido em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “O ‘lulismo’ supera a instituição partidária. É ligado ao corpo de Lula. Inclusive, tem crescido. Tenho impressão que o ‘lulismo’ tem crescido. É uma força reativa ao julgamento que um conjunto da população faz ao modo como Lula tem sido tratado”, pontuou. O docente da Ufba se mostrou a favor de os pleitos continuarem a ter horário eleitoral gratuito. “Eu acho que é interessante. Tem uma função, de alguma maneira, de promover uma justiça na distribuição do espaço no sentido que está relacionado às bancadas que os partidos têm. Se não tem partido, a rigor, não deveria nem competir”, frisou.