SALVADOR, BAHIA, BRASIL: 13.03.2018 - FÓRUM SOCIAL MUNDIAL - Abertura do Fórum Social Mundial, na reitoria da Universidade Federal da Bahia. A cerimônia homenageou o casal de cientistas Sônia Andrade e Zilton Andrade, e o artista plástico e escritor mestre Didi. Foto: João Alvarez
Com passos lentos e acompanhados por um respeitoso e emocionado silêncio da plateia que lotou o Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia, os cientistas Zilton Andrade (93) e Sônia Andrade (89), professores e pesquisadores eméritos da universidade, dirigiram-se na tarde do dia (13.03) à mesa que abriu oficialmente a participação da Ufba no Fórum Social Mundial. Ao chegar aos seus assentos, não foi preciso dizer uma só palavra para que que o casal, referência nas pesquisas sobre patologias tropicais, fosse aplaudido de pé. O mesmo silêncio de reverência, seguido de calorosos aplausos, marcou a apresentação de canto lírico em homenagem ao Mestre Didi, artista plástico e expoente da cultura afro na Bahia. A apresentação musical ficou a cargo de sua filha, Inaicyra Falcão, que conduziu o público à emoção ao cantar à capela um cântico de origem africana.
A valorização das artes e da ciência, destacando o papel essencial da universidade pública para o desenvolvimento das nações, foi a marca da participação da Ufba no evento internacional, que se realizou em Salvador no sábado, dia 17. “Somos uma universidade pública, gratuita, inclusiva e de diversidade, e que tem realizado a produção do conhecimento com toda a sua força e ambiguidade, pois se nossas estruturas, em algum momento, podem até servir às elites, também têm no seu destino o servir à liberdade e à democracia”, declarou o reitor João Carlos Salles, enfatizando que “a Ufba tem a honra de ser parceira do Fórum Social Mundial”.
Toda a produção científica da universidade e a importância dada às artes, sobretudo, as que mais enfrentaram preconceitos, a exemplo das obras ligadas ao candomblé, simbolizaram, durante a solenidade, os principais argumentos da Ufba para protestar contra o corte de verbas para as ações acadêmicas. “Sem ciência, sem futuro”, dizia uma das faixas assinadas pela universidade durante o cortejo que se seguiu à solenidade na Reitoria. Integrado pelo reitor, professores e estudantes, o grupo fez o trajeto até o Campo Grande, unindo-se à manifestação maior promovida pela organização do Fórum Social Mundial, que seguiu em marcha até a Praça Castro Alves.
A solenidade
Antes de mesmo de seguir o Maestro Fred Dantas junto ao cortejo da Ufba na Marcha do FSM, uma das participantes do evento, que se vestiu de verde e amarelo incorporando a personagem “Tia Duçurada”, já traduzia, na plateia da Reitoria, a alegria da participação da Ufba no Fórum. Engrossava o coro dos que ovacionaram, com muita música, os homenageados. Integravam ainda a mesa, além dos cientistas Zilton Andrade e Sônia Andrade, a professora Inaycira Falcão e a irmã Maria Nídia dos Santos, representando a família do Mestre Didi. O vice-reitor, Paulo Miguez, e a ex-reitora Eliana Azevedo, também integraram a bancada, presidida pelo reitor João Carlos Salles.
Os professores Zilton e Sônia Andrade também receberam flores, em mais um reconhecimento da importância do trabalho dos dois para a ciência baiana. Os avanços obtidos pelas pesquisas na Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), bem como a contribuição dos professores na formação de gerações de médicos e pesquisadores na área de saúde da Ufba, foram destacados pelo professor Luís Fernando Adan, diretor da Faculdade de Medicina. “São, sem dúvida, exemplos de cidadania e dedicação à produção científica e que continuam, com suas descobertas, contribuindo para o avanço das pesquisas em nossa universidade”, disse.
“Assistir as aulas deles era uma honra, um diferencial”, completou o professor Mitermayer Reis. “Agradeço a minha companheira de carreira e da vida inteira”, disse Zilton Andrade. “Só temos a agradecer pela deferência que nos faz a Ufba, coroando nossa carreira científica. Muita luz à Ufba, ao Fórum Social e à democracia”, completou, sendo novamente aplaudido de pé.