A sessão ordinária desta terça-feira (2) foi palco de debates que atravessaram a gestão da saúde pública, o combate ao racismo e a defesa das culturas populares.
O vereador Luciano Almeida abriu a discussão no grande expediente apresentando denúncias sobre o não pagamento de salários a profissionais que trabalham no Hospital Regional Dantas Bião. Ele relatou ter sido procurado por três médicos e uma médica que, mesmo cumprindo exaustivos plantões de 24 horas para salvar vidas, continuam com os salários de setembro e outubro atrasados, com a folha de novembro prestes a vencer no dia 20 de dezembro.
Luciano classificou a situação como absurda, descrevendo a angústia destes profissionais em relação ao pagamento de suas contas. O parlamentar criticou o governo do estado, afirmando que a gestão faz uma “campanha tamanho G”, mas tem mais de 900 obras paradas pela Bahia, resumindo a administração a “muita promessa e pouca ação”.

Em resposta, o vereador Thor de Ninha garantiu que ligará para a diretoria da unidade e, se necessário, acionará a SESAB para assegurar o pagamento dos trabalhadores, mas fez uma defesa robusta do governo estadual.
O parlamentar elencou investimentos maciços, como os R$ 160 milhões no novo Hospital Dantas Bião, a implantação de uma UPA 24h e a retomada das cirurgias eletivas – incluindo oftalmológicas e futuramente de varizes-, serviço que, segundo ele, estava fechado desde as gestões de Paulo Cezar e Joaquim Neto.

Thor destacou a revolução na educação com a entrega de 630 escolas de tempo integral que não possuem apenas cantinas, mas restaurantes e piscinas olímpicas, elevando a autoestima dos alunos, majoritariamente negros e da periferia.
O vereador aprofundou o debate racial citando o reconhecimento pelo STF do “Estado de Coisas Inconstitucional”, que admite a omissão histórica do Estado brasileiro em permitir que negros sejam maioria nos presídios, nos subempregos e nos hospitais, enquanto brancos dominam os espaços de poder. Ele defendeu as cotas raciais não como privilégio, mas como ferramenta de equiparação de oportunidades, e exaltou a justiça tributária do Governo Lula, que isenta de imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil, taxando os mais ricos para aliviar os pobres.
O vereador Luciano Almeida interveio para ampliar o escopo da discussão racial, lembrando a existência do racismo religioso que também vitima a população. Ele cobrou o vereador Thor sobre o Dia de Marielle Franco, data criada por lei municipal de autoria do colega, mas que “nunca foi feita menção nos anos subsequentes”.
O opositor criticou ainda a postura da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã de Marielle, apontando o silêncio dela e a falta de movimentos contundentes diante da soltura e prisão domiciliar dos irmãos Brazão, acusados de serem os mandantes do crime.
Retomando a palavra, Thor de Ninha incorporou a crítica sobre o racismo religioso, concordando que toda forma de preconceito deve ser combatida. Ele justificou que, embora não tenha havido uma grande atividade específica para a data de Marielle, seu mandato possui um vasto arcabouço legislativo antirracista.
Thor citou projetos de sua autoria como o “Diálogo Diário Antirracista”, a formação continuada para servidores, as cotas de 50% em concursos e a Lei do Primeiro Emprego, que reserva metade das vagas para jovens negros. Ele reafirmou que o racismo é estrutural e que a luta para desmantelá-lo deve envolver negros e brancos, pois o preconceito está na base da sociedade.
A vereadora Juci Cardoso definiu o racismo estrutural como a explicação para as desigualdades que atingem, sobretudo, mulheres negras e mães solo das periferias, que criam filhos em situação de extrema pobreza.
Juci rebateu a cobrança feita à ministra Anielle Franco, argumentando que é injusto exigir posicionamento de quem vive o luto diário e vê a imagem da irmã desfigurada. “Por que você, homem, não se levanta e questiona o homem que matou e mandou matar?”, indagou.

A vereadora finalizou seu discurso com um ato de repúdio à demissão de Olívia Silva do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).
Descrevendo Olívia como uma mulher negra, retinta, de Irará, e referência nacional na capoeira e no samba de roda, Juci denunciou que o desligamento ocorreu sem diálogo porque Olívia “colocava o dedo na ferida” na defesa das comunidades. Mesmo sendo da base do governo do estado, Juci afirmou que a coerência exige questionar erros que prejudicam o território e as culturas populares, prestando solidariedade a Olívia Silva.
Ascom – Câmara Municipal de Alagoinhas
Fotos – Jhô Paz




























