Investigado pela Polícia baiana por supostamente ter dado abrigo ao miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, morto pela PM no domingo, 9, em Esplanada, no litoral norte da Bahia, o fazendeiro Leandro Guimarães desapareceu nos últimos dias, em meio a ambiente de tensão na região. Em Esplanada, o Parque Gilton Guimarães, fazenda de Leandro onde Adriano se escondeu, aberto e acessível até a quinta-feira, 13, foi fechado com corrente a forasteiros. Já em Pojuca, a 80 quilômetros dali, jornalistas da revista Veja, que procuravam o empresário, foram detidos por policiais. Uma equipe do Estado também tentou achá-lo. Foi recebida com temor e quase nenhuma informação por moradores.

Leandro Guimarães é uma espécie de celebridade local, por causa das vaquejadas que organiza em Esplanada, município de menos de 30 mil habitantes no litoral norte da Bahia. Pertence a uma família abastada que, além de promover vaquejadas com prêmios de mais de R$ 100 mil, tem atuação política em Pojuca. Nas duas cidades, os Guimarães são figuras conhecidas. Para descobrir onde moram, basta pedir informação a qualquer um em posto de gasolina, lanchonete ou na beira da estrada. Todos sabem.

Em Pojuca, um dos irmãos de Leandro, Lucas José Abreu Guimarães, é secretário de Serviços Públicos e Meio Ambiente, além de filiado ao PDT. Também no município, Leandro tem filiação ativa no Podemos desde 2003.

“São meninos bons”, disse uma vizinha, sem se identificar.

O “capitão” Adriano era chefe da milícia Escritório do Crime, investigada nas operações Os Intocáveis e Os Intocáveis II. Fugiu do Rio há mais de um ano. Era filho de Raimunda Veras Magalhães e ex-marido de Danielle Mendonça da Costa. As duas foram nomeadas assessoras de Flavio Bolsonaro, então deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio e filho do presidente Jair Bolsonaro. São investigadas por suposto envolvimento no esquema de “rachadinha” (devolução de salários ao parlamentar), do qual Adriano também teria se beneficiado. Depois de escapar a um cerco policial na Costa do Sauípe, em janeiro, ele foi para Esplanada, onde foi abrigado por Leandro em sua fazenda. Lá, apurou o Estado, o suspeito circulava a cavalo e exibindo fuzil.

O envolvimento – ainda nebuloso – de Leandro com o miliciano foragido da Justiça do Rio intriga moradores das duas cidades. Na fazenda de Esplanada, os funcionários demonstravam preocupação com o futuro, já que não veem o patrão desde o sábado, 8. Foi quando policiais prenderam Leandro por porte ilegal de arma. Esta semana, o empresário ganhou da Justiça baiana a liberdade, com uso de tornozeleira eletrônica e pagamento de fiança. Mas os funcionários da propriedade sentem falta do comando do chefe.

“Leandro arranjou um problemão pra ele, vai ser difícil se explicar”, comentou um funcionário na manhã de quinta-feira, 13.

O fazendeiro afirma ter conhecido Adriano nas vaquejadas que organiza. Disse à Polícia que não sabia que o ex-oficial era um homem procurado. Afirmou ainda que o Adriano dizia querer comprar fazendas na região – o empresário lhe teria mostrado algumas. Só percebeu que o ex-policial era perigoso quando ele, acuado, o ameaçou. A Polícia investiga essa versão.

O Estado tentou localizar Leandro em Pojuca, pouco depois da detenção da equipe de Veja. O incômodo de moradores das casas humildes com a presença da equipe de reportagem era nítido e quase de irritação. Ao chamar por Leandro da entrada da casa, a reportagem recebeu apenas um aceno negativo por parte de um homem que estava lá dentro.

“Ele não está”, limitou-se a dizer.

Quem também não tem sido visto em Esplanada nos últimos dias é o vereador Gilson de Dedé (PSL), dono da casa onde Adriano foi morto no último domingo. Não apareceu na Câmara Municipal, e as pessoas abordadas afirmaram não saber dele. O Estado apurou que o parlamentar frequentava a fazenda de Leandro, visitada por muitos moradores interessados nas vaquejadas. A Polícia considera plausível a versão do político: ele disse que não conhecia Adriano que, em fuga, abrigou-se no imóvel vazio.