Após ser indiciado pela Polícia Federal no caso da chamada “Abin paralela”, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta terça-feira (17/6) que duvida que exista alguém no Brasil que tenha sido mais perseguido do que ele.
“Eu duvido que alguém no Brasil foi mais perseguido do que eu. Mas vale a pena. Temos que enfrentar os desafios. Nós mexemos com o sistema. Um sistema podre, carcomido”, disse Bolsonaro durante agenda pública em Presidente Prudente, no interior de São Paulo.
A declaração foi feita durante a Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne (Feicorte), evento que contou também com a presença do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outras figuras políticas paulistas, como o secretário de Governo, Gilberto Kassab (PSD), que foi elogiado por Bolsonaro durante o discurso.
Durante sua fala, o ex-presidente comparou nomes de sua gestão com integrantes do atual governo Lula (PT), questionando a plateia: “Dá para comparar Paulo Guedes com Haddad? Renan Filho com Tarcísio? Dá para comparar Janja com a Michelle?”.
Além de Bolsonaro, participaram do evento o vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth (PSD); o presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado (PL); e o secretário estadual de Agricultura, Guilherme Piai (Republicanos).
A Polícia Federal concluiu e enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o inquérito que investigou a existência de uma estrutura ilegal de espionagem dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), durante o governo Bolsonaro, conhecida como “Abin paralela”.
No relatório final, a PF indiciou 35 pessoas, entre elas:
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o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL);
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o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin;
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o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente;
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o atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa.
A investigação apontou o uso da Abin para monitoramento de opositores políticos entre 2019 e 2021. Segundo a PF, a espionagem era feita por meio do software israelense First Mile, que permite rastrear a localização de pessoas a partir de dados de antenas de telecomunicação. A ferramenta foi adquirida durante o governo Michel Temer.
A participação de Bolsonaro ao lado de Tarcísio ocorre em meio a especulações sobre a eleição presidencial de 2026. Integrantes do grupo bolsonarista discutem a possibilidade de o governador paulista liderar a chapa como candidato à Presidência, com Michelle Bolsonaro como vice.
Nos bastidores, aliados avaliam que, caso eleito, Tarcísio poderia conceder indulto ao ex-presidente, caso ele venha a ser condenado pelo STF. A presença de Michelle como vice elevaria a pressão nesse sentido, além de mobilizar a base bolsonarista.
Segundo interlocutores próximos a Tarcísio, o governador é “extremamente leal” a Bolsonaro e estaria disposto a seguir todas as orientações do ex-presidente para 2026. Publicamente, no entanto, Tarcísio continua afirmando que disputará a reeleição ao governo paulista e que Bolsonaro é seu candidato natural à Presidência.