Duas semanas após o incêndio que destruiu ao menos 5 ônibus na garagem da empresa ATP, o site News Infoco traz com exclusividade uma entrevista com os administradores da empresa que opera em Alagoinhas. Na entrevista tratamos sobre o incêndio dos veículos, a situação do transporte coletivo de Alagoinhas, os desafios da empresa e os planos para o futuro. O resultado desta entrevista você acompanha a partir de agora:

News Infoco – O incêndio ocorrido no último dia 16 foi o terceiro ocorrido na garagem da ATP. Como vocês avaliam essa situação?

Estamos muito preocupados e atentos com estes acontecimentos. Em menos de 3 anos, tivemos perda total de 34 veículos queimados dentro da nossa garagem. Um prejuízo material irrecuperável dentro do cenário dos últimos 5 anos dos transportes coletivos urbanos em todo o Brasil.

News Infoco – Por falar em prejuízos… Quais foram os prejuízos da empresa com esses eventos?

Os 34 veículos queimados somados geraram um prejuízo material superior a R$ R$ 2.800.000,00. Tem também o prejuízo moral de todos os funcionários da empresa que vive o nosso dia a dia de muita união e luta para podermos prestar um serviço de extrema importância para toda a população de Alagoinhas. É muito difícil.

News Infoco – Quais medidas estão sendo tomadas pela empresa após esse terceiro incêndio?

Desde o primeiro incêndio contamos com o total apoio da Polícia Militar e Civil, porém nesse último resolvemos fazer uma investigação mais minuciosa junto com essas entidades e através de tecnologia que já havíamos implantado quando do segundo incêndio, como monitoramento da garagem, acho que isso ajudará a elucidar melhor os fatos. Também estaremos aumentando os investimentos com segurança, monitoramento, estruturais e outras tecnologias que nos possibilite não mais passar por essas terríveis ocorrências, as quais tentam nos puxar para baixo, mas só saímos mais fortes para atingirmos nossos objetivos, a união faz a força e a ATP é uma família de muita união.

News Infoco – Fala-se muito de uma crise nacional no ramo do transporte público…. Realmente existe essa crise?

Sim, existe. O transporte público ao longo dos últimos anos vem enfrentando significativa redução no número de passageiros pagantes, isso se deve por diversos fatores, como por exemplo, o aumento de diversos modais de transportes por aplicativos, empobrecimento da população, transporte clandestino, falta de investimentos em corredores exclusivos, capacitação de agentes públicos e privados, aumentos excessivos dos insumos básicos como óleo diesel, pneus, peças, máquinas e equipamentos, dentre outros diversos fatores. Aliados aos fatores citados, sofremos bastante com a pandemia do COVID-19, onde houve um fechamento de centenas de empresas de transportes e milhares de empresas de diversos segmentos em todo o Brasil. As que conseguiram sobreviver com muito trabalho e fé em Deus, hoje sofrem com diversas sequelas desse período, cujo endividamento público e privado gerou uma trava financeira que somente com a união do Poder Concedente, empresa, fornecedores e sociedade conseguirão se reerguer nos próximos 05 anos. É bom lembrar que o Governo Federal lá atrás, concedeu o benefício aos idosos com mais de 65 anos, gerando a gratuidade da passagem dentro do transporte público, porém, não se imaginou que a população iria crescer, a expectativa de vida iria aumentar. Hoje as cidades que conseguem ofertar um bom serviço de transporte público, geralmente estão atreladas a subsídios tarifários de prefeituras, Governos ou em outros modais contratuais, afinal, a tarifa técnica, que é o custo operacional do sistema, divido pelo número de passageiros pagantes, diverge e muito da tarifa praticada pelo poder concedente. Quando trazemos a realidade das grandes metrópoles para Alagoinhas, o caso se agrava ainda mais, pois idosos entre 60 e 64 anos e portadores de deficiência física também não pagam as suas passagens, deixando assim ainda maior a diferença entre tarifa técnica e tarifa praticada. Atrelado a tudo isso, o ônibus precisa cumprir rotas e horários, independente de ter ou não ter passageiros pagantes suficientes para fazer frente ao custo daquela viagem. O grande desafio de hoje do Legislativo e Executivo, é encontrar formas de manter este sistema funcionando, sem gerar prejuízos ainda maiores no bolso da sociedade, afinal, este ainda é o único meio de transportes gratuito para boa parte da sociedade. Não tem muito o que se discutir, temos um contrato o qual está anexado a uma planilha técnica praticada em todo o Brasil, já houve diversas atualizações mês a mês dessa planilha em Alagoinhas e fica evidente o prejuízo do desequilíbrio econômico/financeiro o qual vivemos há alguns anos e que culminou no fechamento de duas empresas e as que tentaram vir para a cidade operar não conseguiram se sustentar por mais de 3 meses. 

News Infoco – Recentemente, representantes da Comissão Municipal de Transporte da Câmara de Vereadores de Alagoinhas, em entrevista a um programa de rádio, estimaram um prejuízo no sistema que supera R$ 1 milhão por mês. Qual impacto desse déficit na gestão do sistema?

O déficit financeiro do sistema sempre acarretará na qualidade dos serviços prestados. Não existe outra conta a se fazer. Podemos fazer diversas analogias para exemplificar. Você consegue comprar no mercado os alimentos que seu salário comporta, tendo que se preocupar com outros aspectos como, luz, água, aluguel, farmácia, vestuário, saúde, lazer, educação dentre outros. Se seu salário não comporta tudo isso, como você faz? Prioriza o que te fará sobreviver que é o alimento e saúde em primeiro lugar, o resto vai se negociando, empurrando mais para frente, reprogramando. No nosso caso, a sobrevivência é pagar salários e benefícios para nossos funcionários, óleo diesel e peças fundamentais para que os veículos operem em segurança.

News Infoco – Apesar de todas as dificuldades, houve avanços e investimentos realizados pela empresa nesse período?

Sim, foram feitos diversos investimentos na empresa e continuamos fazendo dentro das nossas possibilidades. Só para você ter uma ideia, apesar de todas as dificuldades, criamos mais de 70 postos de trabalho, assumimos a contratação de vários funcionários das extintas empresas, pagamos vale alimentação, plano de saúde, pagamos salários em dias, depositamos regularmente o FGTS, INSS, renegociamos todas as dívidas adquiridas na pandemia, fizemos renovação da frota, mas infelizmente perdemos em grande parte veículos com data de fabricação entre 2011 e 2014, nos tristes episódios de incêndios de 2021 e 2023. Estamos investindo constantemente na educação e treinamento de nossos funcionários, novas tecnologias, sistemas de informação, monitoramento dos veículos, infraestrutura e modernização da garagem, máquinas e equipamentos, como exemplo estamos negociando adquirir uma máquina de lavagem dos ônibus que custa mais de 100 mil reais. Temos um planejamento estratégico bem definido e, para o cenário, posso dizer que ousado. Tudo de ruim que nos acontece só nos fortalece.

News Infoco – Com tantas dificuldades e gargalos, algumas cidades deixaram de ofertar o transporte público para a população deixando idosos, deficientes e demais categorias sem um transporte gratuito. Vocês acreditam que o sistema de transporte público é ainda viável em Alagoinhas?

Acreditamos sim, mas para isso, todos precisam fazer o seu dever de casa. Quando dizemos isso, é que tanto o setor privado quanto o público, precisam assumir suas cotas de responsabilidades para a manutenção e melhoria do sistema. Hoje o setor privado na sua grande maioria e público, não adquirem os vales transportes, eles pagam em dinheiro. Isso retira uma fonte de renda que deveriam ir para a empresa, diminuir o déficit, mas isso não acontece. E olha que o valor da tarifa de ônibus é que serve de base dos cálculos para pagamento desses valores aos funcionários. Outras alterativas precisam ser reparadas, como por exemplo, a indicação de fonte pagadora para as gratuidades concedidas por leis municipais, o que pode até acarretar redução tarifaria para todos os outros usuários. Existem diversos fatores e planos que podem resolver o problema do transporte coletivo de Alagoinhas e já estamos no caminho certo, buscando a união de todos os agentes Governo, nós, enquanto empresa, e a sociedade.

News Infoco – O que a ATP pretende fazer após todos esses fatos adversos? Há risco de abandonar a concessão?

Não abandonaremos de forma alguma a concessão. Acreditamos primeiramente em DEUS, depois em nossos funcionários, nos Governos Federal e do Estado, na Prefeitura de Alagoinhas, nas pessoa do excelentíssimo prefeito, os secretários, a Câmara de Vereadores, fornecedores e, acima de tudo, acreditamos em toda a sociedade de Alagoinhas. É preciso que se diga que somente através de um plano integrado unindo todos esses agentes é que venceremos todos os obstáculos para seguirmos em frente.

News Infoco – E quais os planos da ATP para os próximos anos?

Olha, nosso principal objetivo é alcançar o equilíbrio econômico/financeiro do contrato. Com isso, eu quero dizer a toda sociedade que aumentando a receita, seja através do aumento do número de passageiros no sistema, ou com um subsidio governamental que cubra o valor do déficit atual do sistema, conseguiremos financiar educação e treinamento permanente dos nossos funcionários, que é a maior riqueza da ATP, investimento em infraestrutura da garagem, implantação de novas tecnologias e investimento em frota.