Lula foi eleito presidente da república. Fechada as urnas o petista obteve 60.345.999 votos (50,90% dos votos válidos) ante 58.206.354 votos (49,10% dos votos válidos) de Jair Bolsonaro. Menos de 24 horas após o resultado, porém, a realidade mostra que se a eleição foi difícil para Lula, conseguir governar o país será o seu maior desafio político.

Durante o programa Primeira Mão desta segunda-feira(31) fiz uma análise do contexto político no qual Lula terá que se adaptar, o que se torna preocupante para ele. Vamos lá:

1- VOTAÇÃO

Embora Lula tenha conquistado a maioria dos votos válidos, o resultado das urnas mostrou que a maioria do eleitorado brasileiro não chancelou a volta do ex-presidente. Somado o número de votantes em seu adversário (Bolsonaro) com o número de abstenções, brancos e nulos, o número ultrapassa 90 milhões de brasileiros. Isso é prova inequívoca que o antipetismo continua muito forte, bem como, de que a pecha de corrupto não descolou de Lula. A maioria não queria a sua volta ao poder.

2 – MINORIA NO CONGRESSO

Apesar de um grande leque de partidos que lhe concederam apoio durante os dois turnos, a bancada de aliados ao Lula, tanto na Câmara Federal, quanto no senado, é menor do que dos aliados a Bolsonaro. A bancada de aliados a Bolsonaro eleitos para a Câmara Federal soma 187 parlamentares, contra 125 parlamentares de aliados de Lula. Outros 201 deputados são considerados neutros. É válido destacar que para aprovar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), por exemplo, são necessários três quintos dos votos dos deputados (308). Lula então precisa de mais 183 deputados, pelo menos, lhe dando sustentação, além dos que já possui. Já no Senado, de acordo com levantamento do site Poder360, 37 senadores figuram na seara bolsonarista, ante 28 senadores simpáticos a Lula. Os outros 16 se dizem neutros. Com isso, para conseguir 3/5 do senado, Lula precisará de, pelo menos, 21 novos senadores, fora os que já possui, para aprovação de PECs. Lula vai ter que negociar e muito, principalmente com partidos do Centrão, para ter a governabilidade.

3 – PROMESSAS DE CAMPANHA

Lula prometeu entre outras coisas durante a campanha: salário-mínimo com aumento real, continuidade do auxílio brasil de R$ 600,00, isenção de imposto de renda a quem ganha até R$ 5 mil, revogação da reforma trabalhista e fim do orçamento secreto. Acabada as eleições, a realidade: Não há espaço fiscal para concessão de auxílio de R$ 600,00, tampouco aumento real no salário-mínimo. Para cumprir essas duas promessas só há duas saídas. A primeira aumentar ou criar novos impostos para reforçar o caixa do Governo, a segunda se endividar, pedir dinheiro emprestado, descumprindo a lei do teto de gastos. Tanto uma, como outra, medidas impopulares, que terão que ser aprovadas no Congresso. Dependente de um Congresso ideologicamente hostil a sua bandeira, Lula terá que oferecer algo em troca de apoio. Reforma Trabalhista, orçamento secreto deve estar na mesa de negociações. Quanto ao aumento do limite da isenção do IR, ora, para um governo que precisa fazer caixa, abrir mão de receita está fora de cogitação. Caso essas promessas não se cumpram, vem aquela velha história do “estelionato eleitoral”…. E todos nós sabemos como isso terminou para a Dilma Rousseff.

4 – OPOSIÇÃO ORGANIZADA

O PT nunca enfrentou nos 16 anos de governo uma oposição tão organizada como agora. A direita mostrou força. Desde 2013 grandes manifestações mexeram com a cara do Brasil, ao mesmo tempo que movimentos sociais de esquerda e sindicatos entraram num período de descrédito e decadência. A grande vigilância da oposição e a hostilidade de grande parte da população aos casos de corrupção impõe a Lula e seu governo a necessidade de se reinventar. Na primeira suspeita de volta de mensalão, Petrolão, loteamento de estatais e de métodos análogos de compra de votos e apoio parlamentar, as ruas irão gritar. Vide o que já acontece nas estradas brasileiras com a manifestação dos caminhoneiros… E olha que o Lula nem tomou posse. O Lula sabe que não pode errar.

Essas são só algumas das dificuldades que se apresentam à Lula para o seu futuro Governo. Soma-se a isso a dificuldade de manter o próprio arco de alianças que formara para as eleições que contemplou desde a extrema esquerda até os liberais do mercado financeiro. Como manter a unidade após o anúncio do ministério? Ele vai ter que escolher um lado, eis o perigo.

O ideal seria o Lula fazer um governo de entendimento nacional nos moldes do que promovera o Itamar Franco após o impeachment do Collor em 1992. Mas veja como é a história… O PT foi o único partido que não aceitou colaborar com o Governo Itamar.

Eis aí o grande desafio de Lula: Governar o Brasil.

Escrito por Caio Pimenta, advogado, âncora do programa Primeira Mão, da radio Ouro Negro 100,5 FM. Ele também escreve sua coluna no site News Infoco, do qual é editor- chefe e dirige a radio web 2 de julho.