Mesmo depois do fim da greve dos caminhoneiros, os protestos que pararam o Brasil ao longo dos últimos dias deixarão consequências graves para a economia brasileira. Analistas ouvidos pelo UOL afirmam que os efeitos vão desde um crescimento menor da economia, passando por uma alta na inflação, até uma retomada mais lenta do emprego.
Com o prolongamento da greve, o economista da Órama Investimentos Alexandre Espírito Santo reduziu de 2,5% para 2,2% a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o fechamento de 2018.
“Existe todo um problema relacionado ao que foi perdido e ao que deixou de ser produzido na indústria. Nas minhas contas, essa greve deve ter um impacto de até 0,3 ponto percentual no resultado do PIB”, disse.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e é utilizado para medir o desempenho da economia. No último dia 22, mesmo antes da mobilização, o governo reduziu de 2,97% para 2,50% a projeção para o crescimento da economia em 2018.
Agora, embora a equipe econômica afirme que a estimativa esteja mantida, integrantes do governo dizem internamente que existe o risco de essa alta ficar perto de 2%.
Na opinião de Balassiano, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), a sociedade deverá sentir os efeitos da greve sobretudo no que diz respeito ao emprego e ao seu poder de compra. Segundo o pesquisador, com um crescimento mais lento da economia, a tendência é que o mercado de trabalho abra menos vagas do que o esperado inicialmente.
Ele vinha projetando uma taxa de desemprego de 10,8% no fim do ano, ou cerca de 11,2 milhões de pessoas sem trabalho, mas essa estimativa deve ser revista. Hoje, pelos números do IBGE, hoje, há 13,4 milhões de desempregados no Brasil, o que equivale a uma taxa de desocupação de 12,9%.
“Com a recuperação mais lenta da economia, o emprego também vai demorar mais a reagir”, afirmou.
O gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, disse que, com o término da greve, as empresas levarão um tempo para se recuperar das perdas que tiveram. O impacto maior será para as que trabalham com produtos perecíveis, como alimentos, ou com animais.
“Existem perdas que são permanentes. Existem granjas, por exemplo, que perderam animais, e empresas de alimentos que pararam seus fornos. Tudo isso gera impacto sobre a economia”, afirmou.
No caso da inflação, Castelo Branco disse que a greve traz um choque “temporário” de preços, sobretudo de alimentos. “Há muitos produtos que foram perdidos e isso vai se refletir nos dados da inflação de maio e junho. Mas esse segmento rapidamente vai se recuperar”, afirmou.
Da redação