Como De Volta para o Futuro II já previu, o futuro será repleto de marcas, cartazes e outdoors espalhados por aí. Só que Martin McFly e cia. não contavam que até a Nasa, a agência espacial americana, poderia se render ao mundo do marketing.

Segundo o jornal Washington Post, o diretor da organização, Jim Bridenstine, quer que a agência estude a possibilidade da concessão de naming rights (“direitos de nome”), espaço para anúncios nos seus foguetes e até a autorização para que astronautas sejam estrelas de comerciais.

Pode até não parecer, mas os astronautas são funcionários públicos – e, por conta disso, estão sujeitos às mesmas normas éticas da categoria. Mas a proposta de Bridenstine quer dar mais visibilidade a seus funcionários, incentivando a participação deles em programas de TV, como verdadeiras celebridades. “Eu gostaria de ver as crianças sonhando em se tornarem cientistas ou astronautas da Nasa, em vez de astros do esporte profissional”, disse o diretor.

Privatização intergaláctica

A ideia levantada pelo dirigente coloca em discussão outra coisa: a entrada de investimento privado na agência espacial.

A Nasa já usa outras empresas para transportar carga para a Estação Espacial Internacional (ISS), e o governo de Donald Trump já sinalizou que gostaria de deixar de financiar a estação (que já somam mais de US$ 100 bilhões) e pretende facilitar a exploração privada do espaço.

Em tempos de Elon Musk e SpaceX (que fará sua primeira viagem tripulada à ISS em 2019), o projeto da Nasa serviria para garantir a continuidade das missões da agência quando e se, um dia, a Casa Branca decidir cortar o investimento de vez.

Outra fonte de renda para a Nasa pode estar na autorização do uso de sua imagem. Só no ano passado, o órgão colaborou com 209 produções audiovisuais (filmes, documentários, programas de televisão, etc.), seja autorizando o uso de imagens, seja oferecendo suas instalações para gravações. Além disso, há a concessão do logotipo da agência para a os mais diversos produtos, que o órgão sempre realizou sem retorno financeiro. Seu amigo tem uma camiseta com o logo da Nasa? Ela provavelmente não ganhou nada com isso.

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Um estudo preliminar apontou que cada módulo da estação espacial poderia render até US$ 25 milhões a cada 60 dias (a ISS é formada por 16 módulos). A análise comparou a receita com a venda de naming rights de estádios de futebol para empresas (como o Allianz Parque, em São Paulo). Nos Estados Unidos, um estádio pode gerar cerca de US$ 20 milhões por ano. Mas quem toparia pagar por um outdoor na órbita da Terra?

Em novembro, a fabricante de cervejas Budweiser anunciou que estava se preparando para produzir sua bebida em Marte, a partir de estudos com cevada na Estação Espacial. Nos anos 90, a Pizza Hut pagou para ter sua marca representada em um foguete russo. E já rolaram ideias mirabolantes vindas de consultores econômicos da Nasa, como uma luta de boxe no espaço. Opções (e empresas dispostas a pagar) não faltarão.

Por Rafael Battaglia para a Revista Superinteressante